Cadê a vista que tinha na minha janela?

Há uns meses atrás estava morando num sobrado, no bairro Gramberi em Juiz de Fora, e uma das coisas que mais me atraiu ao alugá-lo foi a sua bela vista. É isto mesmo, não imaginam como é importante poder olhar pela janela e olhar o horizonte, ou pelo menos parte dele já que numa cidade com tantos edifícios isto é cada vez mais raro.

vista da sala - Cadê a vista que tinha na minha janela?Acontece que após alguns meses começaram a construir um prédio próximo a minha casa, se fosse ao lado creio que não me incomodaria tanto, mas era praticamente na minha frente, pois a rua faz um T, e exatamente na junção deste que eu vi se erguendo aos poucos um prédio de porte médio. De início achei que seriam poucos andares, três ou quatro somente e aos poucos foi aumentando. Comecei a temer quando começou a se aproximar da altura em que eu via o morro do Cristo, que é como um cartão postal de Juiz de Fora. Para minha tristeza ele passou da altura do morro aproximadamente na altura de um andar.

Vocês podem estar rindo de mim a estas alturas, mas, talvez no futuro entendam a minha torcida pela não verticalização da cidade e a crítica pela destruição da vista que tinha da minha varanda.

Vista do apartamento - Cadê a vista que tinha na minha janela?Durante anos morando de aluguel aqui e ali, muitas vezes fiquei sem opção e acabei alugando um apartamento de fundos ou que dava a janela para a lateral e, tinha exatamente um prédio ao lado que não me deixava ver o céu, a não ser que abrisse a janela e olhasse para o alto. Nestes momentos torcia para ver a lua ou as estrelas maiores numa clara noite da cidade, pois, as estrelas pequenas somem com tanta luz. Não imaginam como era angustiante esperar a noite de lua cheia para poder sentir o leve clarão de luar entrando à noite em minha janela.

Em cada mudança que fizemos tentávamos melhorar alguma coisa e no ranking das qualidades da nossa “nova” casa sempre estava os itens: vista da janela, pedaço maior do céu, claridade para poder desenhar sem ter que acender a luz artificial e nas últimas duas mudanças um espaço para o cachorro. Também é importante o tamanho da sala porque a nossa sempre está repleta de quadros, livros e a inseparável mesa do computador.

Mas, voltando a minha questão principal gostaria de saber por que permitiram no código de posturas de várias cidades tantas construções imensas que só enchem o bolso das construtoras mas que empobrece a nossa qualidade de vida.

Já se perguntaram, onde moram os donos destas grandes construtoras? No mínimo, num grande condomínio fechado a léguas de distância da cidade com muita natureza e uma linda vista do céu estrelado nas noites comuns e também nas noites de lua cheia. E se não moram nestes paraísos idílicos pode ser até numa cobertura na grande cidade, naqueles prédios que tem uma moradia por andar e, é claro que a moradia dos construtores só pode ser a cobertura, talvez do tipo de um Loft, com muitas plantas, jardins tipo orientais ou jardins suspensos, piscina e o diabo a quatro em cima e para coroar a “melhor” vista da cidade já oferecida, para uso gratuito de um orgulhoso destruidor de horizontes.

Dizem que é o progresso. Mas espera aí! Num país continental como o nosso, em que um estado equivale a quase três países da Europa, acho que daria para estes governantes limitarem um pouco estas construções imensas para pensar num futuro mais amplo, horizontal e com uma qualidade de vida infinitamente superior a que estamos antevendo através dos inúmeros canteiros de obras que surgem diariamente nas nossas ruas.

Meu sonho para a concretização de um futuro com horizonte mais amplo em nossas cidades é que os vereadores e prefeitos da região tenham pena da pobre visão que está á espera das gerações futuras e resolvam limitar as construções, digo na altura, o que permitiria apartamentos menos insalubres, úmidos e sem luz como os que estão proliferando por aí.

Que possam buscar também incentivar a melhoria dos transportes e a construção de vilas e bairros mais humanizados que valorizem a luz do sol assim como a luz da lua. Que não nos transformem em prisioneiros de condomínios verticais, cheios de câmara de segurança e grades. Sem privacidade até para “namorar” com tranquilidade e sem aquele pedaço de céu que tanto faz falta para os nossos momentos de sonhar ou mesmo para a renovação de nossas energias para a luta diária.